A
orca (
Orcinus orca) (popularmente conhecida como
baleia-assassina) é o membro de maior porte da família
Delphinidae (ordem dos
cetáceos) e um
predador
versátil, podendo comer peixes, moluscos, aves, tartarugas, ainda que,
caçando em grupo, consigam capturar presas de tamanho maior, incluindo
morsas e baleias. O nome baleia assassina provém da tradução direta do inglês
"killer whale"
e, mesmo sendo incorreto, tornou-se popular, especialmente entre os
leigos. É um predador carnívoro, sendo considerada como um animal de
topo na cadeia alimentar. Pode chegar a pesar nove toneladas. É o
segundo mamífero de maior área de distribuição geográfica (logo a seguir
ao homem), podendo encontrar-se em qualquer um dos oceanos.
Têm uma vida social complexa, baseada na formação e manutenção de
grupos familiares extensos. Comunicam-se através de sons e costumam
viajar em formações que assomam ocasionalmente à superfície. A primeira
descrição da espécie foi feita por
Plínio, o Velho
que já a descrevia como um monstro marítimo feroz. Até hoje só houve
quatro casos de ataques fatais a seres humanos: um ocorreu na Malásia em
1928
quando um grupo de quatro orcas foi atacado por um pescador. Os animais,
para defenderem-se, revidaram e atacaram o barco e o homem, que foi
morto; o outro caso ocorreu em
1991, quando um treinador do Sealand of the Pacific no
Canadá, foi puxado para o fundo do tanque onde estavam 3 exemplares de orcas, e morreu por afogamento. Em
1999, um dos três animais, um macho de nome
Tillikum se envolveu em outro incidente, no Parque
Sea World, em
Orlando,
Flórida,
quando autoridades acharam o corpo de um homem afogado em seu tanque
(não se sabe o que ocorreu, mas a suspeita é de que o homem - um turista
- pulou intencionalmente no tanque, e não foi capaz de sair, apesar de
haver marcas de ataque em seu corpo). E o quarto, e mais recente
incidente envolveu também o macho Tillikum, no dia 24 de Fevereiro de
2010, também no SeaWorld, quando a treinadora Dawn Brancheau foi puxada
para o fundo do tanque, ao fim de uma apresentação.
[2].
Outros casos de incidentes ocorreram envolvendo orcas e seus
treinadores, mas nenhum outro caso de morte foi relatado além dos já
citados. Não há nenhum registro na história sobre ataques de orcas a
seres humanos em alto mar.
Denominação
O nome
orca foi dado a estes animais pelos antigos
romanos, em princípio, derivado da palavra
grega ὄρυξ que (entre outros significados) se referia a uma espécie de baleia.
"Baleia assassina" é outro dos nomes mais vulgares. Contudo, desde a
década de 1960,
a comunidade científica (principalmente a anglófona) passou, de novo, a
utilizar mais frequentemente "orca". As razões para esta mudança de
nomenclatura popular também está ligada ao fato de os leigos terem
começado a interessar-se mais pela espécie, aprendendo, por exemplo, que
este animal não é, de fato, uma baleia, ela pertence a família dos
golfinhos. A denominação
orca era já comum noutras línguas
europeias - o aumento de pesquisas científicas sobre a espécie ajudou
também a criar uma certa convergência na forma de nomear este cetáceo.
Outra razão relaciona-se com o adjetivo "assassina" que parece ter
implícita a ideia errônea de que seria letal para os seres humanos.
[3] Orca é, quanto a isso, uma opção vocabular mais neutral.
Um grupo de orcas pode, de fato, matar uma grande baleia. Sabe-se que os marinheiros espanhóis do
século XVIII designaram estes animais de
asesina de ballenas
(assassinas de baleias) por esta razão. O termo foi, depois, mal
traduzido para inglês como "killer whale" (baleia assassina) -
designação imprópria, mas que se tornou tão frequente que os próprios
espanhóis (e portugueses) adotaram a "retradução".
Há quem continue a preferir este nome, argumentando que descreve bem
um animal predador de outros, incluindo outros cetáceos. Além do mais,
esta designação não provém, provavelmente, apenas do termo utilizado
pelos marinheiros espanhóis. O nome do seu género biológico,"
Orcinus" significa "do Inferno" (ver
Orcus)
e, ainda que o termo "orca" (usado desde a antiguidade) não esteja,
provavelmente relacionado etimologicamente, a assonância poderá ter
levado as pessoas a pensar que significaria "baleia que traz a morte" ou
"demónio do Inferno".
É interessante verificar que línguas não-europeias continuam a
designar este animal com termos igualmente intimidantes. Para o povo
Haida das
Ilhas da Rainha Carlota ao longo da costa da
Colúmbia Britânica, a orca é conhecida como
skana ou "demônio assassino". Os japoneses chamam-na de
shachi (鯱), cujos caracteres
kanji combinam os radicais para
peixe (魚) e
tigre (虎).
Alimentação
As
orcas utilizam na sua alimentação uma grande diversidade de presas
diferentes. Populações específicas têm tendência a especializar-se em
presas específicas, mesmo com o prejuízo de ignorarem outras presas em
potêncial. Por exemplo, algumas populações do mar da Noruega e da
Groenlândia são especializadas no
arenque, seguindo as rotas migratórias deste peixe até à costa norueguesa, em cada outono. Outras populações preferem caçar
focas.
A orca sendo da familia dos golfinhos é o único cetáceo que caça
regularmente outros cetáceos. Há registos de vinte e duas espécies de
cetáceos caçadas por orcas, seja pelo exame do conteúdo do estômago,
seja pela observação das cicatrizes no corpo de outros cetáceos ou,
simplesmente, pela observação do seu comportamento alimentar. Grupos de
orcas chegaram mesmo a atacar
baleias comuns,
baleias-de-minke,
baleias-cinzentas ou, mesmo, jovens
baleias-azuis.
Neste último caso, os grupos de orcas perseguem a cria de baleia azul,
em conjunto com a sua mãe, até ao esgotamento de ambas. Por vezes
conseguem separar o par. De seguida, rodeiam a jovem baleia, impedindo-a
de subir à superfície onde esta precisa de tomar ar para respirar.
Assim que a cria morre afogada, as orcas podem alimentar-se sem
problemas.
Há também um caso registado de provável
canibalismo. Um estudo levado a cabo por
V. I. Shevchenko nas áreas temperadas do Sul do Pacífico em
1975
registou a existência de restos de outras orcas no estômago de dois
machos. Das 30 orcas capturadas e examinadas nesta pesquisa, 11 tinham o
estômago completamente vazio. Uma percentagem invulgarmente alta que
indicia que o canibalismo foi forçado, devido à falta extrema de
alimento.
Mais frequentemente, contudo, as orcas predam cerca de 30 espécies diferentes de peixes, nomeadamente o salmão (incluindo
salmão-real e
salmão-prateado), arenques e
atum. O
tubarão-frade, o
tubarão-galha-branca-oceânico e, com apenas um caso documentado, um jovem
tubarão-branco,
são também caçados pelos seus fígados altamente nutritivos,
acreditando-se também que são caçados no sentido de eliminar ao máximo a
competição. Outros mamíferos marinhos, incluindo várias espécies de
focas e
leões marinhos são também procurados pelas populações que vivem nas regiões polares.
Morsas ou
lontras marinhas são também caçadas, mas menos frequentemente. A sua dieta inclui ainda sete espécies de aves, incluindo todas as espécies de
pinguins ou aves marinhas, como os
corvos-marinhos. Alimentam-se também de
cefalópodes, como o
polvo ou
lulas.
As orcas são muito inventivas, e de uma crueldade brincalhona
impressionante nas suas matanças. Por vezes, atiram focas umas contra as
outras, pelo ar, de modo a atordoá-las e matá-las. Enquanto que os
salmões são, geralmente, caçados por uma orca isolada ou por pequenos
grupos, os arenque são muitas vezes apanhados pela técnica da
captura em carrossel:
as orcas forçam os arenques a concentrarem-se numa bola apertada,
cercando-os e assustando-os soltando bolhas de ar ou encandeando-os com o
seu ventre branco. As orcas batem, então, com os lobos da cauda sobre o
grupo arrebanhado, atordoando ou matando cerca de 10 a 15 arenques com
cada pancada. A captura em carrossel só foi documentada na população
masculina de orcas de
Tysfjord (Noruega) e no caso de algumas espécies oceânicas de golfinhos. Os leões marinhos são mortos por
golpes de cabeça
ou pancadas com os lobos da cauda. Esse tipo de ataque deve-se,
principalmente, ao fato de a mordedura das orcas não possuir
característica de impacto suficiente para provocar a morte da presa sem
causar ferimentos e/ou danos ao animal. Apesar da presença de dentes,
estes não são suficientemente grandes para causar a morte da presa.
Outras técnicas mais especializadas são utilizadas por várias populações no mundo. Na
Patagónia, as orcas alimentam-se de leões marinhos dos sul e crias de
elefantes marinhos,
forçando as presas a dar à costa, mesmo correndo o risco de elas mesmas
ficarem, temporariamente, em terra. As orcas observam o que se passa à
superfície, através de um comportamento designado de
spyhopping,
que lhes permite localizar focas a descansar sobre massas de gelo
flutuante. A técnica consiste em criar uma onda que obrigue o animal a
cair à água, onde outra orca o espera, para o matar.
Em média, uma orca come cerca de 220 kg de comida por dia.
[11] Com uma tal variedade de presas e sem outros predadores que não o homem, é um animal bem no topo na
cadeia alimentar.
Sons
Tal
como os outros golfinhos, as orcas são animais com um comportamento
vocal complexo. Produzem uma grande variedade de estalidos e assobios
usados em
comunicação e
ecolocalização.
Os tipos de vocalização variam com o tipo de atividade. Naturalmente
que, enquanto descansam, emitem menos sons, ainda que façam
ocasionalmente um chamamento bem distinto daqueles que usam num
comportamento mais activo.
Os grupos sedentários têm uma maior tendência para a vocalização que
os grupos nómadas. Os cientistas indicam duas razões principais para
este fato. Em primeiro lugar, as orcas residentes mantêm-se no mesmo
grupo social por muito mais tempo, desenvolvendo, assim, relações
sociais mais complexas - o que implica também um maior desenvolvimento
local e uma maior partilha de sons próprios do grupo. Os grupos nómadas,
como ficam juntos por períodos mais passageiros (algumas horas ou
dias), comunicam também menos. Em segundo lugar, as orcas nómadas têm
maior tendência para se alimentarem de mamíferos, ao contrário das orcas
residentes, que preferem peixes. As orcas predadoras de mamíferos
necessitam, naturalmente, de passar despercebidas pelos animais que
pretendem apanhar de surpresa. Usam por isso, apenas estalidos isolados
(o chamado "estalido críptico") para ecolocalização, em vez da longa
série de estalidos observada noutras espécies.
Os grupos residentes apresentam dialectos regionais. Cada grupo tem
as suas próprias "canções" ou conjuntos de assobios e estalidos que são
constantemente repetidos. Cada membro do grupo parece conhecer todo o
repertório do grupo, de forma que não é possível identificar
especificamente um animal apenas pela sua voz - é apenas possível
identificar o grupo dialectal. Uma canção pode ser específica de um
grupo ou partilhada por vários. O grau de semelhança nas vocalizações de
dois grupos distintos parece estar mais relacionada com a proximidade
genealógica dos dois grupos que com a proximidade geográfica. Dois
grupos que partilhem um conjunto de ancestrais comuns mas que vivam em
locais distantes continuarão a ter um repertório de canções muito
semelhante. Isto sugere que as canções passem de mãe para filho durante o
período de amamentação.